JORNAL DO BRASIL
Salles Netto: fim de atendimento pediátrico exclusivo preocupa moradores
O local será um Centro Municipal de Saúde e fará atendimento a adultos e crianças
No último domingo
(30)
diversos itens – como macas e condicionadores de ar - começaram a ser
retirados do Hospital
Municipal Salles Netto (HMSN), no Rio Comprido, Zona Norte do Rio. Em
protesto, nesta segunda (31), moradores acenderam velas em frente ao
hospital. A informação da Coordenadoria de Saúde da Área de Planejamento
(CAP 1.0) é que as adequações exigidas pelo Ministério do Trabalho
estão sendo feitas no
local. Os moradores, porém, estão preocupados com o sucateamento do
hospital e
a principal mudança que irá ocorrer: o fim do atendimento exclusivo de
crianças.
A informação de que o
hospital vai começar a atender também a adultos foi confirmada pela Secretaria
Municipal de Saúde (SMS). Ainda segundo a SMS, o local não será transformado em
uma clínica da família, como os moradores temiam. Ainda assim, o hospital será
transformado em um Centro Municipal de Saúde, que muda a configuração de
atendimento.
“Essa questão de Centro
Municipal já está confirmada. O hospital fazia parte da subsecretaria de Atenção Hospitalar, Urgência e Emergência e
agora faz parte Subsecretaria de Atenção
Primária, Vigilância e Promoção da Saúde. As
informações é que em três semanas, o CMS estará atendendo a adultos e
funcionando a pleno vapor”, disse o secretário executivo da Associação de
Moradores dos Bairros do Rio Comprido (Amorico), Gian Carlo de Oliveira. Segundo
ele, uma reunião foi marcada para o próximo dia 9, com o
subsecretário de Atenção Primária, Daniel Sorranz, que irá discutir com os
moradores a situação do hospital.
A unidade faz hoje uma média de
80 atendimentos ambulatoriais e de especialidades pediátricas por dia. Com as
mudanças, passará para 320, entre crianças e adultos. Perguntado sobre o
aumento de efetivo, a SMS não respondeu. Ela também não se pronunciou sobre
a gestão do hospital que passa a ser uma Organização Social (OS).
Para
o presidente do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro, Jorge Darze,
as mudanças no Salles
Netto estão sendo feitas de forma irregular “Eles estão usando uma
denúncia do
Sindicato dos Médicos, que exigia melhores condições de trabalho, para
mudar
tudo. Estão passando por cima do Conselho Distrital e da regulamentação
da OS, privatizando a saúde e se transformando comodamente em apenas
gestores”.
Darze se refere ao
Conselho Distrital AP 1.O, que é responsável pela região. Ainda ano passado, em
outubro, o Conselho deliberou contra as decisões de mudança de atendimento no
Salles Netto, mas não foi respeitado. Para Oliveira, passar por cima do órgão gera
insegurança. “Isso foi um descumprimento sério de uma decisão de um órgão que faz o
controle social na questão da saúde. Nos perguntamos se o que está sendo dito será
cumprido”, explica.
“Temos um histórico de
falta de compromisso da SMS, por isso a apreensão. Não queremos que o hospital
seja transformado em uma clínica da família lá na frente, nem que perca a
qualidade. Isso depois de termos perdido a parte de internação do lugar. As crianças do Rio
Comprido serão internadas onde, agora?” questiona.
Para os
funcionários e
moradores que levam seus filhos ao hospital, as mudanças não são
bem-vindas. Vânia Souza Coutinho, que tem 24 netos, diz que o
atendimento no hospital
é melhor do que em muitos outros locais e o aumento de pacientes a
preocupa. “Eu, por exemplo,espero um exame ser
feito há seis meses pelo SUS. Meus filhos foram tratados aqui e meus
netos agora são. Não esperamos nem uma hora para sermos atendidos e
existe um acompanhamento para quem tem asma
e bronquite”, comenta. Passar a atender adultos preocupa a dona
de casa. “Em outros lugares é um médico para criança e adulto, não tem
pediatra.
Aqui é o único lugar exclusivo e querem acabar com isso”.
Para o funcionário da
empresa terceirizada Facility, vigilante do hospital, a gestão já é complicada
agora. “Estamos com o vale-refeição atrasado, e já fomos informados que o
salário também vai atrasar. Como a prefeitura quer criar uma OS se nem consegue
pagar as empresas que terceiriza?”, critica.
*Do projeto de estágio do Jornal do Brasil
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