domingo, 19 de maio de 2013

Matéria retirada do "O Globo" on line! Isso só mostra a falência também da iniciativa privada para dar atenção ao que a população precisa na saúde pública. Por isso que temos que resgatar os hospitais públicos que os Governos estão fechando, e o Hospital Salles Neto é um deles na área pediátrica.


Com fechamento de emergências pediátricas, espera nas abertas chega a cinco horas

  • Em 2009, Associação de Clínicas Pediátricas do Rio reunia 20 associadas. Hoje, são apenas nove. Juntas, as clínicas que fecharam faziam pelo menos 9 mil atendimentos por mês
MARIA ELISA ALVES






Mães e crianças aguardam atendimento em clínica em Botafogo que viu o movimento dobrar desde janeiro
Foto: Pablo Jacob / O Globo




Mães e crianças aguardam atendimento em clínica em Botafogo que viu o movimento dobrar desde janeiro Pablo Jacob / O Globo
RIO — Toda mãe é igual, só muda o endereço: quando o filho pequeno tem febre alta, crise de asma, qualquer tipo de dor, ou faz uma peraltice que termina em perna quebrada, corre para a emergência mais próxima. Mas, ultimamente, elas — e também pais e avós aflitos —, têm batido muitas vezes com a cara na porta. Devido a uma mistura de falta de pediatras, baixa remuneração pelos planos de saúde e de uma verdade que poucos assumem abertamente — criança não gera tanto lucro quanto o adulto —, cada vez mais hospitais estão encerrando o atendimento pediátrico. Somente nos primeiros meses deste ano, três unidades privadas pararam de atender menores: o Hospital Silvestre, no Cosme Velho; o São Vicente de Paulo, na Tijuca; e o Balbino, em Olaria. Até um instituto público, o Martagão Gesteira, da UFRJ, também desistiu da empreitada.
Nos últimos três anos, também integram o rol clínicas na Ilha, no Méier, na Zona Oeste, além do Hospital RioMar, na Barra, que encerrou as atividades pediátricas pouco depois de virar notícia porque um falso médico teria atendido uma menina de 5 anos e a liberado desacordada. A dimensão do problema pode ser medida também pelos dados da Associação de Clínicas Pediátricas do Rio: em 2009 a entidade reunia 20 associadas. Hoje, são apenas nove. Juntas, as clínicas que fecharam faziam pelo menos 9 mil atendimentos por mês, segundo estimativas da Sociedade Brasileira de Pediatria. Como a oferta de consultas de emergência caiu drasticamente, mas as crianças continuam adoecendo, os pequenos pacientes que têm plano de saúde começam a amargar na rede particular os mesmos problemas de quem só tem como opção o atendimento público: filas intermináveis.
Espera chega a cinco horas
No Copa D´Or e no Memorial Amiu, em Botafogo, dois dos locais mais procurados da Zona Sul, a espera pode chegar, dependendo do dia, a até três horas. E, nas zonas Oeste e Norte, a cinco. Na última quarta-feira, Andréa Barbosa era exemplo da peregrinação a que as mães têm sido submetidas. Ela foi com o filho Marcos, de 5 anos, ao Centro Pediátrico da Lagoa, mas descobriu que o plano dela não é mais aceito no local. Foi parar no Memorial Amiu, que vive abarrotado. Andréa estava há mais de uma hora na fila, sem previsão de atendimento. Marcos se distraía jogando no celular da mãe, que não disfarçava o enfado, apesar de ter dado sorte — conseguiu ficar sentada. Outras mães, e até crianças doentes, tinham que aguardar em pé.
A diretora médica da clínica, Elizabeth Pastoriza, diz que o movimento dobrou nos últimos meses, passando de 100 para 200 crianças por dia. Para dar conta, ela aumentou o número de médicos e deslocou profissionais que faziam atendimento ambulatorial para a emergência. O hospital também está ampliando as vagas de UTI, de sete para 25 até o fim do ano. Mesmo assim, o chá de cadeira acontece.
— No feriado de 1º de Maio, recebemos 300 crianças. Quem continua aberto está absorvendo todos os pacientes de quem fechou. Minha espera era de 40 minutos, agora a média tem sido de uma hora e quarenta minutos. Já aumentei a quantidade de médicos, mas pediatra é igual a mico-leão dourado, uma raridade — diz.
Aumento de 36% em um ano
No Quinta D’Or, o chefe da pediatria, Ângelo Leal, tem a impressão de estar atendendo “o Rio inteiro”. Em abril, foram seis mil crianças na emergência, 36% a mais do que no mesmo período do ano passado. Ele também tem dificuldades para encontrar pediatras — um clínico geral pode atender numa emergência adulta e recebe o mesmo salário (em média, R$ 1 mil por plantão de 24horas) que um pediatra, obrigado a fazer residência de dois anos para ganhar o título de especialista:
— Tenho atendido crianças da Baixada, de Petrópolis. O fluxo está enorme. A estrutura não comporta tanta gente, nem há tantos consultórios. Nem posso fazer obras de ampliação, porque isso pioraria o quadro. A rede D’Or optou por não fechar a pediatria, mas tem muita gente que desiste. Um leito adulto é cinco vezes mais lucrativo que o pediátrico. A gente oferece um bom salário ao pediatra, mas a dificuldade de consegui-los é incrível.
A situação tem preocupado o presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria-RJ, Eduardo da Silva Vaz:
— Como muitos casos são ambulatoriais, e não emergências de verdade, não há muita tragédia. Mas elas podem acontecer — diz Vaz, que nega a falta de pediatras no mercado do Rio. Segundo ele, dados do estudo “Demografia Médica no Brasil mostram que a pediatria é a especialidade mais procurada do país, com 27.232 médicos. Só no Rio seriam cerca de três mil.
Vaz diz não ter dúvidas de que o fechamento das emergências pediátricas tem uma explicação econômica. Se um adulto chega ao hospital com dor no peito, o normal é fazer um ecocardiograma, um possível cateterismo, procedimentos que são bem pagos. Se uma criança apresenta dor no peito, a investigação é menos complexa. Pode ser uma pneumonia, que envolve menos exames — e, portanto, pagamento menor. Como ambos os casos exigem a presença de médico e estrutura, é claro que vale mais a pena, financeiramente falando, investir no adulto. O Hospital Silvestre, por exemplo, desativou o setor pediátrico, que dava prejuízo, para ampliar a área de cirurgias de alta complexidade e o atendimento geriátrico.
— A pediatria é um péssimo negócio. A tabela dos planos de saúde é mais baixa para crianças. Quando um adulto chega a uma emergência, cada procedimento é pago separadamente. O hospital recebe pela consulta, por cada exame que o adulto fez, por cada medicamento que tomou. Se é uma criança, o plano de saúde paga por um “pacote” de atendimento, que varia de R$ 88,80 a R$ 110. Se a criança faz uma radiografia ou dez, não importa, a clínica recebe no máximo esse valor, que pode ser adequado, se tiver sido feito apenas um exame de sangue ou consulta clínica. Mas, dependendo do caso, se for mais complexo, o hospital fica no prejuízo — diz Elizabeth.
O valor da internação também faz diferença para as clínicas. A diária média de um adulto na UTI chega a R$ 3,5 mil, e a de uma criança raramente ultrapassa os R$ 2 mil. Outro problema é o retorno dos pacientes. Como o filho Pedro continuava, mesmo medicado, com febre de 39,5 graus, Gilmara Mendes foi três vezes a uma emergência em apenas cinco dias.
Cerca de 30% das mães agem como Gilmara e voltam à emergência logo após uma primeira consulta. Mas o retorno, que é bom para tranquilizar a família do doente, é péssimo para as clínicas.
— Os planos de saúde só pagam a primeira consulta e, nas outras, até 30 dias depois, o médico trabalha sem receber nada — diz Alfredo Filho, diretor do Hospital Samci, na Tijuca.
Apesar do fechamento de clínicas, o Sindicato dos Hospitais Particulares do Rio não tem um levantamento de quem abandonou o barco. Segundo Fernando Boigues, presidente da entidade, será contratada uma empresa para fazer um perfil do mercado. Boigues diz que as instituições da rede particular enfrentam custos médico-hospitalares muito acima da inflação, sem que os reajustes das tabelas de serviços dos planos acompanhem essas altas. E também diz que faltam pediatras.
Hospitais não dão detalhes
Nenhum dos hospitais que fecharam recentemente quis explicar as razões para a desistência. Em nota, o Balbino se limitou a informar que avisou seus clientes com antecedência e que ampliou a emergência adulta. O São Vicente de Paulo alegou que optou por encerrar o atendimento “diante da impossibilidade de manter o nível de qualidade adequado em seu serviço de emergência pediátrica”. O Silvestre informou que “a decisão foi tomada em decorrência do novo caminho, o da especialização e ampliação do atendimento a cirurgias de alta complexidade e geriatria”.
Presidente da Federação Nacional da Saúde Suplementar, responsável por 29 operadoras, José Cechin disse que não está entre as atribuições da instituição acompanhar valores de planos de saúde. Ele diz que nenhuma operadora reclamou de problemas na área pediátrica.

Fonte da Matéria: http://oglobo.globo.com/rio/com-fechamento-de-emergencias-pediatricas-espera-nas-abertas-chega-cinco-horas-8433379 

COMENTÁRIOS DOS LEITORES:


  • Luiz Henrique Conde Sangenis
    Infelizmente o que dita as regras dos planos de saúde é a grana. E a pediatria não dá lucros. A privatização da saúde não é solução, pois o dinheiro não pode ditar as ordens da saúde de milhões de brasileiros. Esse modelo está falido e a tendência é piorar. Há falta de vontade política em resolver o problema da saúde no Brasil, falta de impostos e de arrecadação é que não é. Brasil, impostos escandinavos e serviços nigerianos. E aí dona Dilma, vais continuar na inoperância?
    há 1 hora
  • Wilson Borges da Costa
    ESTOU MORANDO EM LONDRES NO MOMENTO, CHEGUEI AQUI EM JANEIRO.2013 TIVE UMA DOR DE CABACA E PROCUREI UM ATENDIMENTO MEDICO, FIQUEI ESPANTADO COM O ATENDIMENTO DO HOSPITAL PUBLICO. FUI ATENDIDO EM APENAS 5 MIM. O MEDICO MANDOU FAZER UMA TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA. E NAO PAGUEI NADA POR ISSO. SABE PORQUE, AQUI SAUDE NAO E NEGOCIO, E PRIORIDADE DO POVO.. TEMOS QUE SABER ESCOLHER MELHOR NOSSOS GOVERNANTES.. obs: estou escrevendo sem acento, porque a maq. nao esta configurada para o Portugues:
    há 2 horas
  • Paulo Mendonca
    Lula, Dilma e Sergio Cabral Filho, nunca mais.
    há 2 horas

  • Lucio Freitas
    Bem feito! Quem elegeu a Dilma e o Lula merecem isso mesmo. Sinto pena NENHUMA!
    há 3 horas


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