sábado, 23 de junho de 2012
SOS IASERJ! JUNTE-SE A NÓS NESTA LUTA!
"Não aceitei ser diretor para ser coveiro", diz dirigente exonerado de hospital no Rio
Felipe Martins
Do UOL, no Rio
Do UOL, no Rio
- Fernando FrançaManifestação de funcionários e parentes de pacientes em frente ao hospital do Iaserj na última sexta (8)
Em mais um capítulo de uma novela que se
arrasta há dois anos, o governador do Rio Sérgio Cabral exonerou o
diretor do Iaserj (Instituto de Assistência do Servidor do Estado do Rio
de Janeiro) em decisão publicada hoje no Diário Oficial. Nelson Ferrão
foi cortado depois de fazer pressão contra o fechamento do hospital do
instituto, que será demolido para a construção de um centro de
oncologia, alegando que muitos pacientes não sobreviveriam à
transferência.
A saída de Ferrão ocorre após decisão
judicial expedida na última quinta-feira impedindo a transferência de
pacientes do Iaserj para qualquer outra unidade de saúde. Para o lugar
de Ferrão foi nomeado Pedro Cirillo, que já dirigiu a unidade.
Funcionários, pacientes do Iaserj e moradores do centro lutam contra a
demolição da unidade de saúde, configurada há dois anos após a cessão da
área, em uma parceria dos governos federal e estadual.
Procurado pela reportagem do UOL,
o ex-diretor do Iaserj contou que recorreu ao conselho de ética do
hospital contra ofício da Secretaria de Saúde que dava início ao
processo de transferência dos serviços hospitalares. “O ofício tratava
apenas das transferências de serviços ambulatoriais. Eu recorri ao
conselho de ética da unidade alegando que não é possível a transferência
sem que haja prejuízo aos pacientes”, disse.
De acordo com Ferrão, existem pacientes no
CTI que não suportariam transferência para outra unidade.
Posicionando-se contra a demolição, o ex-diretor afirmou que passou a
trabalhar para impedir qualquer remoção sem que um plano de contingência
fosse criado. “A minha postura é essa. Eu não aceitei ser diretor do
Iaserj para ser coveiro. Eu vim aqui para trabalhar”, declarou.
A sentença do juiz Daniel Vianna Vargas, da
Comarca da Capital, vai ao encontro do exposto pelo ex-diretor do
Iaserj. Segundo o juiz, “a desativação e remoção representa risco de
vida para os pacientes internados e risco de danos aos milhares de
usuários da unidade”. O magistrado informa ainda que “há necessidade de
comprovação da possibilidade médica da remoção/transferência de
pacientes sem risco à sua saúde”. A Justiça pede a apresentação de um
plano que permita que as transferências ocorram sem risco à vida dos
pacientes.
Segundo o Ministério Público, autor da ação
civil pública, uma equipe do órgão esteve no local e constatou que os
pacientes internados já vêm recebendo ligações telefônicas informando
sobre a transferência, sendo orientados a buscar vagas em outras
unidades de saúde. Ainda segundo o MP, um ”verdadeiro clima de terror”
está criado entre pacientes, familiares e servidores já que a data da
transferência não é informada pela Secretaria Estadual de Saúde.
O Iaserj realiza cerca de 9.000
atendimentos por mês. São realizados durante o mesmo período
aproximadamente 35 mil exames laboratoriais e 1500 de imagem. O hospital
tem cadastrados 80.000 pacientes do SUS. São 56 leitos ativos, sendo 12
de UTI. NO terreno funciona ainda o Instituto de Infectologia São
Sebastião. “O que a gentes questiona é a construção de um centro de
pesquisa, uma obra faraônica onde funciona um hospital que tem potencial
para 400 leitos. Eles só sabem tratar de câncer na Cruz Vermelha?,
indagou Nelson Ferrão em referência ao sub-bairro do Centro onde estão o
Inca e também o Iaserj.
Manifestação
Funcionários e familiares de pacientes
estão há dez dias acampados no pátio do Hospital Central do Iaserj em
vigília contra a demolição. A presidente da Associação de Funcionários,
Mariléa Ormond, lembra que a demolição do Iaserj é contrária a uma
promessa de campanha do governador Sérgio Cabral. “O governador prometeu
levantar a unidade. Ele disse que a própria família já foi atendida no
hospital. Ele mesmo extraiu as amídalas aqui no Iaserj”, disse.
O Iaserj era mantido com a contribuição de
2% do vencimento dos servidores do Estado. Com o fim do desconto, a
unidade entrou em crise. Portas e janelas quebradas e paredes rachadas
são sinais de decadência de um hospital que já foi referência em
atendimento público.
Com a demolição do Hospital Central do
Iaserj, os leitos serão transferidos para o Hospital Getúlio Vargas,
localizado na Penha, zona norte do Rio, há cerca de 20 km do Iaserj.
Moradora do centro do Rio, a comerciante Isabela Teixeira não concorda
com a atitude do governo do Estado. “Nada contra criar leitos no
Getúlio Vargas, mas tenha paciência. O Getúlio fica na Penha, há 20 km
daqui. Nós, moradores, como ficamos sem esses leitos? É um desrespeito
com a população do bairro”, desabafou.
Outro lado
A Secretaria Estadual de Saúde
manifestou-se por meio de nota sobre a exoneração do diretor do Iaserj,
Nelson Ferrão. Segundo a secretaria, o critério foi exclusivamente
técnico e o novo diretor, Paulo Cirilo, tem vasta experiência em gestão
de unidades de saúde, incluindo o próprio Iaserj.
Sobre o fim do Hospital Central, segundo a
secretaria, há dois anos o cronograma de migração dos serviços do Iaserj
vem sendo discutido com as associações de pacientes e de moradores do
entorno do atual Iaserj. Os leitos do hospital serão transferidos e
ampliados para o Hospital Getúlio Vargas, na Penha, zona norte do Rio,
passando de 12 para 24. A nota informa ainda que o ambulatório e o
serviço de pronto-atendimento exclusivo para servidores do Estado serão
transferidos para a unidade do Maracanã do Iaserj assim que as obras de
adaptação forem concluídas. O Instituto de Infectologia São Sebastião
irá para o Hospital dos Servidores, também no centro.
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