domingo, 17 de maio de 2015

Hospital no Rio tem emergência "provisória" em contêineres há quatro anos 24

Há quatro anos, o atendimento no setor de emergência do HGB (Hospital Geral de Bonsucesso), na zona norte do Rio de Janeiro, se dá em contêineres instalados no pátio da unidade. Faltam leitos, médicos, enfermeiros, insumos e até ar para respirar, já que a estrutura improvisada não possui um sistema de ventilação apropriado para instalações hospitalares, de acordo com o médico Júlio Noronha, que chefiou o setor até o fim de 2011.

"As enfermarias, por exemplo, são totalmente fechadas, principalmente a feminina. Não tem janela ali. Com isso, os pacientes dependem quase que totalmente do ar-condicionado", relatou o médico. "Há momentos em que ele não dá vazão."

Na opinião da DPU (Defensoria Pública da União), a situação que se arrasta desde abril de 2011 é uma "grave violação de direitos humanos". Há pacientes deitados em macas ou acomodados de forma precária em cadeiras, sem qualquer privacidade. "Teve gente que ficou deitada na escada porque não havia mais espaço nos corredores. Essa cena me chocou", lembrou Noronha.

Com a suspensão das obras de construção de uma nova emergência, "o que era para ser provisório se tornou permanente", segundo o defensor público Daniel Macedo. Para ele, o hospital se especializou em "transformar cadeiras em leitos". "Os pacientes aguardam ali sentados com o soro ou ligados ao balão de oxigênio, enquanto não há um leito disponível", disse.

A reportagem do UOL solicitou entrevista com o diretor-geral do HGB, Flávio Adolpho Silveira, mas o hospital se pronunciou apenas por meio de uma nota. De acordo com o Departamento de Gestão Hospitalar, do Ministério da Saúde, a construção da nova emergência está prevista para começar "neste primeiro semestre de 2015". A duração da obra seria de um ano.
O departamento informou ainda que a estrutura baseada em contêineres segue os moldes das UPAs (Unidades de Pronto Atendimento), e seu funcionamento estaria de acordo com as normas da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Obra parou por suspeita de irregularidades

A antiga emergência do HGB foi demolida para que, no mesmo terreno, fosse construída uma nova estrutura de pronto-socorro, mais moderna e eficiente. O projeto, orçado em R$ 8 milhões, seria concluído em um prazo de nove meses.
As obras começaram em fevereiro de 2011, mas foram interrompidas dois meses depois. O motivo? O governo federal encontrou indícios de irregularidades contratuais na licitação, após auditoria da CGU (Controladoria-Geral da União).

"A direção aproveitou que os contêineres já estavam ali, desde o atendimento a vítimas da tragédia na região serrana, no começo de 2011, e transferiu a emergência para lá. Foi uma solução que nasceu para ser provisória, mas se tornou definitiva. O problema é que esse espaço tem apenas 602 metros quadrados, e a capacidade de atendimento é de, no máximo, 30 pessoas", relatou o defensor público.
Durante as vistorias realizadas entre 2011 e 2012, o defensor diz ter encontrado quase cem pacientes sendo atendidos na emergência. "Eles estavam sentados em cadeiras, macas ou no chão. Alguns esperavam até 60 dias pelo atendimento", afirmou.

A DPU denunciou o caso à Justiça por meio de uma ação civil pública e obteve, em 2012, uma liminar que obrigava o hospital a adotar medidas que buscassem resolver o problema, sob multa diária de R$ 100 mil. Após realizar o pronto-atendimento e estabilizar os casos de urgência e emergência, o hospital deveria providenciar a transferência de todos os pacientes que excedessem o limite de 30 leitos em até 24 horas após a entrada na unidade.

Desde então, relatam Noronha e Macedo, o hospital conseguiu reduzir o número de pessoas atendidas em seu setor de emergência, transferindo-as para hospitais das redes municipal e estadual. Porém, em momento nenhum, na versão da DPU, foi adequado ao limite de 30 leitos. Na última segunda-feira (11), a Defensoria Pública fez uma vistoria no HGB e encontrou pelo menos 39 pessoas sendo atendidas em condições semelhantes às que existiam há quatro anos.

"A situação ainda é muito grave. A quantidade de pacientes continua acima da capacidade. Além disso, muitos profissionais de saúde pediram demissão e não houve reposição de pessoal", disse Macedo.

O defensor afirmou que está cobrando da Justiça a adoção de "medidas mais enérgicas" para que o caso não caia no esquecimento. O processo está em fase final de análise na 11ª Vara de Justiça Federal. As informações que foram coletadas na vistoria da última segunda-feira (11) serão anexadas ao processo. De acordo com a DPU, em breve, a Justiça deve se posicionar de forma definitiva a respeito das condições da emergência do HGB.

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Hospital federal do Rio tem 14 mil pacientes à espera de cirurgia20 fotos

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A mudança estética trouxe problemas para o pedreiro, que diz ser alvo de olhares quando anda nas ruas. "Eu me sinto triste porque é algo que eu não posso fazer nada. As pessoas perguntam: 'Por que ele não usa um boné?'. Mas eu não posso usar boné porque começa a dar umas fisgadas perto do olho esquerdo. Isso me causa uma revolta muito grande. Eu não sou assim porque eu quero", desabafou Leia mais Fábio Teixeira/UOL
 
 

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O Into (Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia Jamil Haddad), situado no antigo prédio do Jornal do Brasil, na avenida Brasil, na região portuária do Rio, tem uma longa fila de pacientes à espera de cirurgia, segundo a Defensoria Pública da União. São mais de 14 mil pessoas aguardando. Mais de 50% delas estão acima dos 60 anos Leia mais Fábio Teixeira/UOL
 

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No mês passado, o defensor da República Daniel Macedo ajuizou uma ação civil pública a fim de cobrar do hospital e do governo federal medidas para reduzir essa lista de espera. A direção do Into afirma reconhecer o problema, argumenta que a demanda é maior do que a sua capacidade de oferta e aposta na assinatura de um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) com a DPU e o Ministério Público Leia mais Fábio Teixeira/UOL
 

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A aposentada Ilma Pereira Bazílio, 67, diz ser uma das veteranas da fila. Segundo a idosa, há sete anos, ela aguarda uma artroplastia primária de joelho (operação para substituição ou reparação da articulação do joelho) na esperança de dar fim a uma dor que a acompanha desde 1999, quando foi diagnosticada com um tipo de artrose (gonartrose bilateral avançada) Leia mais Fábio Teixeira/UOL
 

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Segundo Ilma, as dores no joelho se tornaram insuportáveis nos últimos dois anos, fato que lhe impõe uma rotina de reclusão. "Eu conto os dias até chegar o domingo, que é quando eu tenho ajuda para ir ao culto na igreja. Só nesse momento eu consigo ver e interagir com amigos, ouvir a palavra do pastor, pedir ajuda a Deus para que ele me tire dessa situação", disse Leia mais Fábio Teixeira/UOL
 

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A idosa mora sozinha em uma casa de dois andares, na favela Jorge Turco, em Coelho Neto, na zona norte do Rio. Ela é obrigada a subir e descer uma escada todos os dias. "Eu desço de manhã e só subo para dormir, pois o meu quarto fica no andar de cima", relatou a aposentada Leia mais Fábio Teixeira/UOL
 

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A aposentada Ilma Pereira Bazílio, 67, diz ser uma das veteranas da fila. Segundo a idosa, há sete anos, ela aguarda uma artroplastia primária de joelho (operação para substituição ou reparação da articulação do joelho) na esperança de dar fim a uma dor que a acompanha desde 1999, quando foi diagnosticada com um tipo de artrose (gonartrose bilateral avançada) Leia mais Fábio Teixeira/UOL

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Segundo Ilma, as dores no joelho ficaram mais fortes nos últimos dois anos. "Eu não aguento mais esse sofrimento... A dor não para. Dói o dia todo. É como se cortassem a carne do joelho e a descolasse do osso. Tenho que tomar remédio a base de morfina", afirmou ela Leia mais Fábio Teixeira/UOL
 

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A aposentada Ilma Pereira Bazílio, 67, diz ser uma das veteranas da fila. Segundo a idosa, há sete anos, ela aguarda uma artroplastia primária de joelho (operação para substituição ou reparação da articulação do joelho) na esperança de dar fim a uma dor que a acompanha desde 1999, quando foi diagnosticada com um tipo de artrose (gonartrose bilateral avançada) Leia mais Fábio Teixeira/UOL
 

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O Into, porém, argumenta que o atendimento feito a Ilma, em setembro de 2007 (a foto mostra o cartão que ela recebeu na ocasião), não teria representado o ingresso da paciente na fila da cirurgia de joelho. Na versão do hospital, ela foi atendida por um médico do Centro de Cirurgia do Pé e Tornozelo, sem indicação cirúrgica. Ao retornar para consulta, cinco anos depois, ela teria entrado efetivamente na lista de espera após ser atendida por um médico especialista em joelho Leia mais Fábio Teixeira/UOL
 A Data de Nascimento de Ilma é 02/01/45.


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Em 2012, Ilma diz ter sido notificada pelo Into de que havia "perdido a vez na fila". De acordo com a idosa, a ouvidoria do hospital informou que ela já tinha sido chamada para operar o joelho e não compareceu. Com isso, a paciente teria feito um novo cadastro, o que significou "ir para o fim da fila". A aposentada negou ter sido chamada e disse que, na ocasião, a resposta dada pelo Into era o mesmo que "brincar com o sofrimento de uma pessoa" Leia mais Fábio Teixeira/UOL
 

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A espera por cirurgia no Into também é uma realidade para o pedreiro Otoniel Pedreira de Souza, 37, que perdeu praticamente metade da calota craniana após cair de uma laje enquanto trabalhava, em maio de 2013. Há quatro meses, Otoniel aguarda a colocação de prótese customizada Leia mais Fábio Teixeira/UOL
 

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Com a retirada da calota craniana, houve perda óssea, o que faz com que o crânio de Otoniel esteja até hoje exposto à pressão atmosférica, segundo relato da mulher do paciente, Ana Paula Figueira. Os médicos alertaram o casal para a possibilidade de sequelas irreversíveis Leia mais Fábio Teixeira/UOL
 

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Na rede pública, o Into é o único hospital que oferece cirurgia de prótese de crânio. Em um hospital particular, de acordo com a cotação feita pela mulher de Otoniel, Ana Paula Figueira, todo o procedimento custaria cerca de R$ 150 mil. "Inviável para a gente", definiu ela Leia mais Fábio Teixeira/UOL
 

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A renda do casal despencou de R$ 3.000 para aproximadamente R$ 850, já que ambos estão sem trabalhar --a mulher de Otoniel teve que sair do emprego para cuidar do marido. A família sobrevive de bicos feitos por ela e do auxílio-acidente pago pelo INSS a Otoniel no valor de um salário mínimo (R$ 724) Leia mais Fábio Teixeira/UOL
 

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A espera por cirurgia no Into também é uma realidade para o pedreiro Otoniel Pedreira de Souza, 37, que perdeu praticamente metade da calota craniana após cair de uma laje enquanto trabalhava, em maio de 2013. Há quatro meses, Otoniel aguarda a colocação de prótese customizada Leia mais Fábio Teixeira/UOL
 

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Segundo a mulher, Otoniel vem apresentando sinais de depressão. O pedreiro, que é evangélico, não manifesta vontade nem de ir à igreja, já que até em seu espaço religioso ele é vítima de olhares e comentários. "Outro dia eu estava lá, ouvindo o pastor falar sobre pessoas deficientes, e todo mundo começou a me olhar... Eles não tiravam o olho. Eu me senti muito mal nesse dia e comentei com um irmão que até na igreja isso acontece", declarou Leia mais Fábio Teixeira/UOL
 

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A mulher de Otoniel, Ana Paula Figueira, se disse emocionada ao lembrar de uma pergunta feita pelo filho mais novo do casal, Andriel (foto), 6: "Mãe, quando a gente vai colocar a testa do papai no lugar?" Leia mais Fábio Teixeira/UOL
 
Matéria retirada do Portal notícias UOL -  link:  http://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2015/05/16/hospital-no-rio-tem-emergencia-funcionando-em-conteineres-ha-quatro-anos.htm#fotoNav=20
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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